Crônicas de uma professora

Abril, 25.

Assaltar professora é desaforo!

Lá estava eu indo para a minha última aula de direção noturna, feliz por pôr fim a um ano de burocracia, quando avisto três meninos sentados na sacada de uma loja fechada, aliás, tudo estava fechado ao redor e a rua estava bem escura. Pensei “será que estes meninos vão aprontar alguma”, e segui porque completei o pensamento com “bobagem, preconceito bobo”. 

- Me dá a bolsa senão te furo – disse o primeiro pulando na minha frente.

- Calma, eu só tenho dez reais – disse eu sem saber muito o que fazer.

- Então dá os dez reais, disse o “guri” meio inconformado.

Abri a bolsa e retirei os dez reais (na verdade eu tinha trinta, mas como eles aceitaram dez de cara, dei só os dez, sem risos).

- O que que se tem mais aí? – Perguntou o “pivete” chegando mais perto.

- Nada, eu to indo pra aula – disse já trêmula e perdendo a paciência.

- Me dá o celular! – ameaçou.

- Não tenho celular. – menti.

E neste instante o menino ameaçou pegar minha bolsa e então surtei:

- Não vai pegar nada, (xinguei) sai daqui, (xinguei de novo)!

Não sei o que aconteceu comigo, e muito menos com eles, os três sem reação, saíram correndo, e eu continuei xingando, berrando, pedindo socorro que só foi interrompido quando avistei dois homens descendo a rua paralela e imaginei que pudessem ser “da cobertura” e comecei a correr para o lado contrário. Estava assustada, mas ao mesmo tempo me sentia “vitoriosa” por ter ficado com minha bolsa (a coisificação na prática).

No dia seguinte até ri enquanto contava pras colegas, me arrisquei demais, dei sorte. Eram meninos de no máximo 13 anos. Não eram bandidos, não estavam armados de verdade, levaram dez reais. Podiam ser meus alunos.

(Guri e Pivete são referência a duas canções de Chico Buarque, é só cliclar nos links para conhecê-las).

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