DIA INTERNACIONAL DA MULHER: Divergências justificam AGREDIR MULHERES?
Essa crônica não é uma análise da
conjuntura política, já tem muito textão sobre isso, e alguns muito bons. Essa
crônica é sobre o 8 de março, é sobre escolhas e, se divide em dois momentos: um
de desabafo e outro de desaforo.
O desabafo é que vou ao ato do 8 de Março há uns
vinte anos, não fui em todos, é verdade, porque sempre caem em dia de trabalho,
e sabe como é, temos que fazer escolhas que nem sempre são as melhores.
Que as várias organizações que
constroem o ato sempre tiveram suas divergências políticas, (afinal a esquerda
nunca foi unânime ao longo de sua história), já sabemos, faz parte, porque a
humanidade é dinâmica, e provida de contradições. Mas, apesar dos pesares
sempre foi possível construir uma pauta única para o ato, afinal há sempre
questões que atingem todas as mulheres, há questões comuns: a violência, por
exemplo.
Assim, mesmo sabendo que os
grupos são divergentes, entendemos que nos momentos de unidade é preciso colocar
o bloco na rua, juntos. Então consegui sair num horário favorável que me permitiu
pegar o ato ainda no Masp.
Ao chegar no Masp por volta das
17h40, o clima estava bem estranho, percebemos pelo menos dois atos diferente de
lados opostos da Av. Paulista. Logo pensei: o ato rachou.
Enquanto tentávamos nos inteirar
dos acontecimentos, me deparei com uma bandeira vermelha, gigante, que pensei
ser em homenagem a uma mulher, as muitas que são lembradas no ato do 8 de
Março. Para minha surpresa porém, a bandeira era em homenagem a um homem, a
bandeira era em homenagem ao Lula, se referia aos últimos acontecimentos da semana
passada.
Compreendi lendo o contexto, que
as organizações ligadas ao PT, escolheram transformar o ato do 8 de março, em
um ato em defesa da presidenta Dilma e contra o golpe que acreditam que o
governo poderá ser submetido (há controvérsias). Bom, a escolha da militância
do PT não surpreende. Mas o pior estava por vir.
Companheiras de luta relataram
que outro grupo, agora ligado ao PSTU, ao ter o seu direito de fala garantido, fizeram
sua crítica à escolha do PT em usar o ato do 8 de março pra defender o governo,
e assim, escolheram se retirar do ato e defender o "Fora Dilma",
"Fora Lula", "Fora Todos". A escolha do PSTU também não
surpreende. O que surpreendeu a todos foi o fato da camarada do PSTU ter sido hostilizada
ainda no caminhão, e ter sido agredida, quase linchada por militantes mais exaltados do PT,
incluindo homens, o que iniciou um tumulto com outras militantes agredidas
também.
Neste momento a escolha não
poderia ser diferente: cada um foi para um lado. os movimentos ligados ao PT e
PCdoB foram para o centro; do lado oposto da avenida foram outros grupos que
repudiaram as agressões, como o MRT, o PCB, o PSTU. Além disso outros grupos se
mantiveram no vão Livre do Masp, como o Movimento de Mulheres Olga Benário.
Escolhemos ir embora, éramos
minoria no meio da multidão. Mas a sensação de mal estar não se foi, ela me
acompanhou noite a dentro. O que sempre foi comum nos atos do dia 8 de março é
nos reconhecermos, porque somos poucos. Mas ontem não me reconheci naquele ato,
naquelas atitudes. Muitas perguntas, algumas respostas, poucas perspectivas. Vivemos
um momento crítico, e escolho me posicionar CONTRA QUALQUER TIPO DE VIOLÊNCIA
CONTRA AS MULHERES!
Hoje, vários sites publicaram sobre
o ocorrido de ontem, mas o site oficial do PT escolheu se omitir, como têm
feito com muitas coisas, aliás. Não é preciso lembrar que se o Cunha está lá,
na presidência da Câmara, se deve ao
fato do PMDB ser aliado do PT. O PMDB compõe a base governista, Temer é o vice
presidente, dessa maneira, criticar ações do governo Dilma, não é dar asas ao
inimigo, ele não precisa de asas quando o próprio PT já lhe deu cargos.
O desaforo é a página do PT no facebook ter centenas de compartilhamentos de cartaz dizendo
que se deve ter vergonha de estar no ato se você chama a presidenta Dilma de
vagabunda, mas não ter uma única publicação sobre a VERGONHA de
alguns de seus militantes AGREDIREM mulheres no ato do 8 de março.
DIVERGÊNCIAS NÃO JUSTIFICAM AGREDIR MULHERES!
BASTA DE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER!
Janaína Monteiro - Professora e militante do Kilombagem.