Ser ou não ser do lar: uma falsa questão
A mídia burguesa não dá ponto sem nó, e a revista Veja
agiu com rapidez para projetar uma imagem de Michel Temer como um grande
líder, respeitável, com uma esposa "bela, recatada e do lar", ou
seja, projetar um modelo de família dentro dos padrões conclamados no último domingo
pela maioria dos deputados durante a votação do processo de Impeachment.
Mesmo com super poderes, Samanta abre mão pra ser
"do lar"
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A matéria sobre Marcela Temer causou
polêmica ao exaltar padrões de beleza, reforçando o modelo
de "ser bela" como branca e magra, enquadrando o comportamento
da mulher ideal como recatada, termo que endossa o discurso machista-racista: essa é pra
zuar e essa é pra casar. E retoma, o que eu chamaria do efeito
Feiticeira (da série de TV), da mulher com superpoderes que poderia ser tudo o
que quisesse, mas escolhe abrir mão em detrimento do marido, dos filhos e do
lar.
Os estereótipos reforçados pela matéria
são um ataque explícito aos movimentos feministas, o que fez com que se tornasse um viral na internet, dividindo opiniões, principalmente quanto ao fato de ser ou não ser do lar, o que me leva à algumas reflexões que
divido aqui com vocês.
Ser do lar vamos combinar que não é uma escolha que está posta
pra maioria das mulheres, por vezes é uma escolha do homem, porém, cuidar e educar os filhos de forma integral é um desejo de
muitas, (já foi o meu, inclusive) isso, levando em conta que se possa ter
alguém pra ajudar financeiramente. Pra algumas essa situação foi a mais
viável pra sua vida em determinado momento e, o que pode ser visto como privilégio em alguns casos, em outros coloca-se como a única opção para não entregar os filhos à marginalidade (o que já me relataram muitas mães de adolescentes em situação
vulnerável), outros casos ainda, essa escolha é feita por não conseguir pagar
uma escola, ou uma cuidadora, haja visto a falta de acesso às creches públicas
no nosso país.
Não ser do lar no capitalismo essa não é bem uma escolha, mas uma realidade, a classe trabalhadora
é massivamente composta por mulheres, que enfrentam dupla e tripla jornadas,
estando à frente das suas famílias como as principais responsáveis pelos
sustento da casa. Nós mulheres conquistamos autonomia e independência ao longo
da história, associar o retorno ao lar como um retrocesso é compreensível.
Ser ou não ser do lar é uma falsa questão e fazer a
crítica a matéria da revista Veja é ato político e necessário, num momento
importante, com leis sendo aprovadas que nos impõem retrocessos e perda de
direitos básicos, sobretudo, pras nós mulheres negras e
da classe trabalhadora.
A violência contra nós só tem aumentado dentro e fora do lar, não esqueçamos de Claudia Silva Ferreira que foi assassinada e arrastada pela viatura PM do Rio de Janeiro.
As desigualdades de gênero permanecem e é preciso ainda lutar muito contra isso, o que torna o fato de ser ou não do lar totalmente irrelevante, sendo o mais importante cada mulher combater e mobilizar as demais do lugar onde quiser (ou puder) estar!!!
MULHERES, UNI-VOS! Ainda temos muito a
fazer!
(Janaína Monteiro - Professora de Sociologia, do
Kilombagem).